domingo, 24 de junho de 2007

Minha primeira morada

Itapira/SP - Morei nesta casa dos primeiros meses até 4 anos. Da janela da frente podia se ver o trem passando 3 vez ao dia. A vizinha do lado direito era dona Lazinha, a melhor parteira da cidade.Dona Lazinha era uma mulher baixinha, não consigo lembrar a idade dela na época que morei ali. Da mesma janela que eu via o trem passar, eu via a igreja de São Benedito, que todo mês de maio do dia 04 a 13 tem uma festa enorme, talvez a mais famosa da cidade. Era uma delicia ver a festa se formando, a roda gigante sendo montada, o carrossel, as barracas com comidas típicas, quentão, pinhão...as barracas de argola, o coreto pro leilão. Me recordo do padre com o microfone na mão leiloando ele dizia : Qto me dão por esse frango assado , oferecido pelo *fulano de tal* quanto me dão e as pessoas iam dando lance( na época eu achava que ele falava : qto bidão? Eu gostava de ver a procissão ,tinha a congada e nela havia um violinista que o apelido dele era DORADO , muito tempo depois eu entendi o apelido , ele era feio e se parecia com um peixe, se tocava bem, isso eu não sei. O ponto alto do dia 13, último dia da festa era a queima dos fogos, aquele cheiro de pólvora pelo ar, as pessoas socando o mastro. Havia um mastro com a bandeira de São Benedito ,que as pessoas socavam a terra em volta dele e fazia pedidos. Me mudei desse sobradinho, mas sempre ia até a festa todo mês de maio. No final dos anos 60 , digo 66/67/68 e eu tinha um conjunto musical, os Microns, e tocávamos nessa festa em uma das barracas - A barraca do Lopes , ela era muito famosa, correio elegante corria entre as pessoas, era muito bom recebê-lo ou enviá-lo , era uma forma de começar um namorico. Nós do conjunto éramos muito assediados, podíamos escolher a namorada , era namoro inocente a la seiva de alfazema, mas era bom. Bee Gees - Started a Joke era sucesso, F.comme femme (Beto Rockfeller na Tupi, estava no ar ) essas músicas faziam parte do nosso repertório, mas a mais pedida era Georgia on my Mind uma versão do The Uniques, até hoje é uma das minhas preferidas. Quando a festa terminava era de cortar o coração ver tudo sendo desmontado e a praça voltando ao normal, era muito triste, ficava um grande vazio. Dai voltávamos a vida da pacata cidade. Crime eu não me lembro, morei lá 16 anos, ah, lembrei houve um crime perto dessa festa, debaixo de um viaduto, onde em cima passava um trem, João Gardinho levou uma facada, uma briga de bêbados. . Na cidade tem um dos maiores Clinicas de repouso, ou seja sanatório para loucos de toda espécie, desde o que tratava depressão achando que era loucura e que acabava virando mesmo, por causa da medicação, tratamento de choque e outros. Fundação Américo Bairral, o maior da América Latina. Cheguei a ver uma vez alguns em fuga e os enfermeiros correndo atrás. A primeira coisa que eles fazian qdo fugiam era tirar toda a roupa, ficando nu, não sei explicar o motivo. A cidade tinha muita gente estranha pelas ruas, só fui entender o porque quando tinha uns 30 anos. Muitos internos recebiam alta e a família ia buscar, só que eram pessoas de poucas poses e acabavam abandonando o pseudo louco pelas ruas, dai a cidade adotava. Tinha o Jõao Sezareto que sabia todas as capitais do mundo, e ele tinha uma mania, era só chegar perto dele e fazer SHIIIIIIIIIIIIII... ela fazia PUM!! PUM!! como se fosse um rojão- Tinha outro o Pimenta malagueta que pra todo mundo ele perguntava se era parente dos Cavenaghi e sempre estendia a mão cumprimentado a pessoa e dizia : eu não mereço tanto sua amizade. Tinha o Tonho Bacateiro , era deficiente , andava meio torto, era irritado e vivia xingando as pessoas na rua, detalhe, adorava ir a enterros, não perdia um. Tinha o BARBUDO que a gente chamava-o de comunista e ele virava bicho. Tinha o que sabia o número de telefone de toda cidade. Enfim, tinha muito louco. Um dia analizamos uma rua e fomos lembrando quem morava ou quem morou nela, vou apenas citar 3 - um se suicidou com veneno de rato- outro fazia briga de galo de madrugada - e outra pintava o parapeito da janela de prateado toda a semana , vc passava a qualquer hora do dia e a Maria Bórgia , esse era o nome dela, estava ali debruçada. Nós ,meninos quando passávamos em frente fazíamos figa, pq senão ela jogava catiça na gente . Catiça, não sei de onde vem essa palavra*. Resumindo naquela rua, havia pelo menos 10 pessoas estranhas, que nós conhecíamos, sem contar as antigas...Hoje minha cidade é como as outras, violenta, sem sossego.De vez em qdo eu passo por lá pra ver amigos que até hoje conservo e sempre em outubro tem encontro de ex-alunos http://www.luanor.com.br/microns (aqui tem o meu conjunto 30 e pouco anos depois ) e o cantor ainda usando o inglês de palavras estranhas...e viva Itapira!!!!! Outubro está chegando...



Um comentário:

Anônimo disse...

Qta coisa boa pra ler aqui!
eu já tinha dado um giro por essa página..e hoje procurando uma foto...caí aqui novamente!
gosto muito!
bjs